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Histórico do Município de Maringá
A Companhia de Terras Norte do Paraná
Em 1923, uma comitiva liderada por Edwin Samuel Montagu, ex-secretário de finanças do tesouro britânico, veio ao Brasil para negociar uma dívida que o país possuía junto a credores ingleses. Entre os membros da comitiva estava Simon Joseph Fraser, o 16º Lorde Lovat da Escócia, que viajou com outro objetivo em mente: procurar terras férteis para cultivar algodão, matéria-prima imprescindível para a indústria têxtil britânica.
Lorde Lovat visitou propriedades do interior paulista e, seguindo a trilha das fazendas de café, chegou ao norte do Paraná. A fertilidade da terra roxa que atraíram paulistas e mineiros à região alguns anos antes também agradou o britânico, que decidiu investir na plantação de algodão na região e fundou a empresa Brazil Plantation Sindicate, empresa responsável pelo gerenciamento de suas propriedades em terras brasileiras.
O governo do Paraná tinha muitos problemas e poucos recursos financeiros à disposição para solucioná-los. A saída foi concentrar os investimentos do Estado em setores mais carentes, como a melhoria da educação e da logística, confiando o processo de colonização do Paraná ao capital privado.
Em junho de 1925 é fundada a Paraná Plantations Company, empresa de Londres que comandaria a subsidiária Companhia de Terras Norte do Paraná, no Brasil. Para garantir a propriedade das terras onde seria posto em prática o projeto de colonização, a Companhia de Terras Norte do Paraná precisou negociar com três frentes diferentes. Além das negociações com o governo do Estado, foi preciso adquirir porções de terras ocupadas por posseiros e grileiros que já estavam instalados na região, além de negociar com a Companhia Marcondes de Colonização, que havia chegado ao Paraná em 1922 também com um projeto para a ocupação do norte do Estado, chegando inclusive a negociar terras com o governo. No entanto, a Companhia Marcondes não conseguiu cumprir o que havia proposto no projeto de colonização e, sem condições de continuar a empreitada, acabou vendendo as terras das quais tinha a posse para a Companhia de Terras Norte do Paraná.
Colonização
A região era predominantemente ocupada por florestas de mata atlântica, atraindo a atenção de produtores rurais paulistas e mineiros devido à presença da terra roxa - do italiano, terra rossa (vermelha) -, originada da decomposição do basalto e extremamente fértil. O principal interesse dos fazendeiros que se aventuraram a desbravar essa região era aumentar a área de produção de café, que por um longo período foi o principal produto de exportação da economia brasileira e ganhou, inclusive, o apelido de “ouro verde”, tamanha era sua rentabilidade.
Para solucionar os problemas de logística da região - principalmente na questão do escoamento da produção - um grupo de fazendeiros locais, liderados pelo paulista Antonio Barbosa Ferraz, promoveu a construção de uma estrada de ferro ligando a cidade paranaense Cambará, no “norte velho”, a Ourinhos, no interior de São Paulo.
O povoamento da área compreendida pelo atual Município de Maringá, iniciou-se por volta de 1938, mas foi apenas a partir dos primeiros anos da década de 40, que começaram a ser erguidas as primeiras edificações propriamente urbanas, na localidade conhecida mais tarde por Maringá Velho. Eram umas poucas e bastante rústicas construções de madeira de cunho provisório. Destinava-se fundamentalmente, organizar na região um polo mínimo para o assentamento dos numerosos migrantes que afluíam para essa nova terra.
A divisão dos lotes promovida pela Companhia de Terras Norte do Paraná também foi minuciosamente planejada. Os lotes eram pequenos - a área máxima era de 15 alqueires paulistas (o equivalente a 36 hectares) -, e todos eles foram planejados para aproveitar o máximo possível os recursos naturais e logísticos da região. Todas as propriedades deveriam fazer divisa com uma corrente d’água ao fundo, aproveitando os fartos recursos hídricos da região; e com uma estrada de rodagem à frente, para facilitar a logística e, consequentemente, o escoamento da produção. O tamanho reduzido dos lotes dava oportunidade ao maior número possível de pessoas interessadas em adquirir uma propriedade. No entanto, a Companhia não vendia os terrenos para qualquer pessoa interessada em adquiri-los. Visando o desenvolvimento econômico da região, a empresa colonizadora solicitava referências dos compradores, que passavam por uma triagem e normalmente adquiriam os lotes apenas quando indicados por corretores e agentes ligados à Companhia de Terras Norte do Paraná. No contrato de compra do terreno, existia também uma cláusula que obrigava o proprietário a construir alguma edificação no lote, sob pena de perdê-lo.
Com a venda dos primeiros lotes e a chegada dos primeiros desbravadores, surgiram também as primeiras cidades do “norte novo”. Londrina foi fundada a 21 de agosto de 1929, pelas mãos do engenheiro Alexandre Rasgulaeff, que a batizou em homenagem a Londres, capital inglesa. Cinco anos mais tarde, em 1934, ano em que Londrina se torna oficialmente um município, outros núcleos urbanos começam a surgir na região.
O desbravamento da região de Maringá
Em meados da década de 1930 o escritório da Companhia de Terras Norte do Paraná, onde eram negociados os lotes da região, ficava situado em Londrina. Os compradores se dirigiam ao escritório para adquirir as propriedades, e logo partiam para começar a derrubada das árvores nativas, visando preparar o terreno para a prática da agricultura, em especial para a plantação de café.
O primeiro lote de Maringá, de numeração 1/A, foi adquirido pelo padre alemão Emílio Clemente Scherer, que chegou ao Brasil em 1938, fugindo do nazismo. O padre Scherer é considerado o primeiro pioneiro desbravador de Maringá. A propriedade que ele adquiriu - localizada em uma região próxima ao local que hoje é o bairro Cidade Alta, em Maringá -, foi batizada de Fazenda São Bonifácio. Foi nesta propriedade que, a 12 de fevereiro de 1940, surgiu a primeira igreja de Maringá, a Igreja São Bonifácio, construída com madeira retirada de árvores cortadas na própria fazenda. A igreja existe até hoje, próximo ao bairro da Cidade Alta, no prolongamento da Rua Dolores Duran.
Em 1942, surgiu também um pequeno povoado que servia como ponto de apoio aos pioneiros desbravadores que já começavam a trabalhar nas propriedades rurais locais: a área que hoje é chamada de Maringá Velho.No entanto, a formação do Maringá Velho não se deu de forma precária e desordenada. O historiador do Patrimônio Histórico de Maringá, João Laércio Lopes Leal, conta que o povoado cresceu obedecendo a um planejamento criado por Aristides Souza Mello, diretor da Companhia de Terras Norte do Paraná, que projetou o pequeno povoado de seis quadras, formado por poucas casas e estabelecimentos comerciais, estes voltados a atender às necessidades básicas da população rural.
Cidade Planejada
No planejamento de colonização previsto pela Companhia de Terras Norte do Paraná, a estação de trem, que seria construída em uma região mais plana, deveria estar localizada no centro da cidade.
O projeto da cidade de Maringá é datado de 1943 e assinado pelo urbanista paulista Jorge de Macedo Vieira, adepto do conceito de “Cidade Jardim” elaborado pelo britânico Ebenezer Howard e responsável pelo projeto de inúmeros bairros de São Paulo. O traçado de Maringá foi desenhado com largas avenidas, canteiros que valorizavam o paisagismo e ruas que seguiam a inclinação natural do relevo o mais fielmente possível.Um fato interessante é que Jorge de Macedo Vieira nunca esteve em Maringá. O historiador do Patrimônio Histórico de Maringá, João Laércio Lopes Leal, conta que o urbanista recebeu a ajuda de Cássio Vidigal, diretor da Companhia de Terras Norte do Paraná e amigo de Jorge de Macedo Vieira dos tempos em que eles frequentaram a Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo). E foi a partir de um planejamento desenhado por Cássio Vidigal e tendo como referência algumas fotos aéreas da cidade que Jorge de Macedo Vieira finalizou o projeto de Maringá.
Fundação de Maringá
A fundação oficial de Maringá e data em que a cidade comemora seu aniversário é 10 de maio de 1947, quando a Companhia de Terras Norte do Paraná (que foi adquirida por investidores brasileiros nos anos 1940 e foi rebatizada como Companhia Melhoramentos Norte do Paraná em 1951) abriu um escritório na cidade, no cruzamento entre a avenida Duque de Caxias e a rua Joubert de Carvalho (a construção existe até hoje). Foi nessa data que a Companhia iniciou a venda dos lotes na região do Maringá Novo.
A primeira residência construída no Maringá Novo ficava na Av. Brasil, entre as avenidas Getúlio Vargas e Duque de Caxias, e pertencia ao gerente da Companhia, Alfredo Werner Nyffeler. Construída em madeira, a casa atualmente encontra-se no campus da UEM (Universidade Estadual de Maringá), para onde foi transferida em 1984, e atualmente abriga o Museu da Bacia do Paraná.
Na década de 1950, Maringá pulou de 40.000 habitantes para 100.000, sobressaindo a Vila Operária e o Maringá Velho como regiões mais prósperas, vindo em seguidas as zonas 1,7 e 6. Nesse contexto destacam-se no perímetro urbano as casas comerciais, serrarias, as máquinas de café e as cerealistas.
No irromper dos anos 1960, Maringá registra expansão tanto vertical quanto horizontal, solidificando a posição de centro regional. São erigidos nessa fase edifícios como o Três Marias, Maria Tereza e Maringá, atestando ares de metrópole a cidade. Novos loteamentos aparecem, por exemplo o Jardim Alvorada, a Vila Morangueira, o Mandacaru e o Jardim Universitário, ampliando a zona urbana do município. Na esteira do progresso brotam instituições seminais ao desenvolvimento sócio-econômico, caso da COCAMAR e da UEM.
A fim de extravasar tanta energia acumulada por uma população crescente e laboriosa, criam-se clubes sociais (Maringá Clube, Country Clube), o Parque do Ingá, o Parque Alfredo Nyffeler, o Parque do Japão, o Bosque das Grevíleas, entre outros atrativos de lazer. O esporte também oferta equipamentos referenciais, destacando-se o Estádio Willie Davids e o Ginásio Chico Netto.
Se atualmente Maringá apresenta elevados índices de qualidade de vida, deve isso ao seu povo, em todos os tempos históricos, pois soube escolher os governantes e trabalhou noite e dia para a cidade ser o que é. Portanto, o maior patrimônio maringaense é sua gente, acima de qualquer bem material ou imaterial.